Estudo Revela: Custo Real da Passagem em João Monlevade Chega a R$ 8,17 – Câmara se Omite e Não Fiscaliza o Sistema

Dentre os direitos de cidadania assegurados pela Constituição Federal de 1988 está o direito ao transporte público. Em João Monlevade, esse direito é formalmente “garantido” por meio da concessão dos serviços à empresa Enscon Viação Eireli. No entanto, para exercer esse direito, cada cidadão precisa arcar diretamente com uma tarifa de R$ 4,00 por viagem.

É sabido que esse modelo de prestação de serviço está esgotado. A cada dia, cresce o número de carros, motocicletas e agora bicicletas elétricas motorizadas, o que demonstra o desinteresse e a insatisfação da população com o transporte coletivo atual. Para tentar reverter esse cenário, a Prefeitura contratou, ao custo de quase R$ 300 mil, uma consultoria especializada para estudar e propor melhorias no sistema. Dois anos se passaram, o estudo foi concluído, mas nenhuma de suas recomendações foi implementada. O resultado é claro: houve desperdício de recursos públicos que poderiam ter sido utilizados de maneira mais eficiente e em benefício direto da população.

Diante desse cenário de descaso, o Movimento Monlevade Sem Catracas – Tarifa Zero realizou um estudo independente para calcular o custo real da passagem, especialmente considerando que, em 2024, a Prefeitura repassou aproximadamente R$ 13 milhões à concessionária do transporte público.

Principais Resultados do Estudo

O transporte coletivo de João Monlevade custa muito mais do que o valor pago pelo usuário na catraca. Embora a tarifa cobrada seja de R$ 4,00, o custo real por passageiro chega a R$ 8,17, considerando o subsídio público.

Como esse valor é calculado?

Passageiros mensais: aproximadamente 260 mil (fonte: Settran)

Passageiros anuais: aproximadamente 3.120.000

Receita da bilhetagem: R$ 12.480.000

Repasses da Prefeitura (2024): R$ 13.000.000

Custo total do sistema: R$ 25.480.000

Tarifa real por passageiro: R$ 8,17

Isso significa que, para cada passagem paga diretamente pelo usuário (R$ 4,00), outros R$ 4,17 saem dos cofres públicos — ou seja, são pagos por todos os contribuintes, mesmo os que não utilizam o transporte coletivo. Paga-se caro por um serviço que, além de ineficiente, não atende adequadamente à população.

Câmara Silente, Subsídio sem Controle

Apesar do alto volume de recursos públicos envolvidos, a Câmara Municipal permanece omissa. Não promove audiências públicas, não exige planilhas detalhadas de custos da concessionária e tampouco discute alternativas para maior transparência e controle. Os repasses funcionam como um “cheque em branco”, sem contrapartidas claras, sem avaliação de desempenho e sem indicadores de qualidade no atendimento à população.

Quando se trata de temas de interesse coletivo, como o transporte público, os vereadores se mostram ausentes. No entanto, questões relacionadas ao próprio benefício, como o aumento no valor do vale-refeição, costumam mobilizar rapidamente os esforços da Câmara. Fica evidente a inversão de prioridades.

Esses senhores e senhoras não percebem que o transporte público custa, em média, R$ 160,00 por mês a um cidadão — ou seja, cerca de 10% de um salário mínimo. Em cidades onde o transporte é pago por quilômetro rodado, como serviço público, a arrecadação tende a crescer e o acesso a outros direitos — como educação, saúde, alimentação e mobilidade — também se amplia. É urgente que os vereadores tirem os olhos de seus próprios interesses e voltem sua atenção para a população que mais sofre.

Tarifa Zero é Viável em João Monlevade?

A tarifa zero é uma política pública adotada por diversas cidades brasileiras. Nela, o transporte é gratuito para a população, sendo custeado por meio de subsídios públicos com base em serviços prestados (quilômetro rodado), e não por bilhetagem.

Em cidades onde o modelo de remuneração por quilômetro rodado já é aplicado, o custo gira entre R$ 8,90 e R$ 10,00. Considerando o valor mais alto (R$ 10,00), e o montante atual repassado pela Prefeitura (R$ 13 milhões), seria possível custear até 1,3 milhão de quilômetros por ano

Com esse volume, é viável planejar rotas, horários e frequência de forma racional e transparente, desvinculando o sistema da lógica da catraca e priorizando o interesse público. Ou seja, com o mesmo valor que hoje é repassado de forma pouco transparente, seria possível implantar um sistema de tarifa zero, desde que haja planejamento, auditoria e controle rigoroso da prestação dos serviços.

Conclusão: Quem Fiscaliza o Fiscalizador?

A tarifa real do transporte coletivo em João Monlevade é mais que o dobro do valor pago diretamente pelo usuário. No entanto, o problema central não é apenas o custo, mas a falta de fiscalização e de vontade política por parte da Câmara Municipal, que se abstém de propor ou debater alternativas, como o modelo de tarifa zero com remuneração por quilômetro.

Se nada for feito, a população continuará pagando caro — seja na catraca ou nos impostos — por um serviço opaco, ineficiente e que opera no escuro.

Fontes: https://www.camaradecaete.mg.gov.br/detalhe-da-materia/info/projeto-tarifa-zero-e-aprovado-pelas-comissoes/150837

https://noticia1.com/noticia/927/prefeitura-de-joao-monlevade-licita-empresa-de-consultoria-em-transporte-publico-valor-e-de-rs200-mi.html

https://leismunicipais.com.br/a1/mg/m/mariana/lei-ordinaria/2023/372/3715/lei-ordinaria-n-3715-2023-institui-no-ambito-do-municipio-de-mariana-o-programa-de-prestacao-de-servico-gratuito-e-ou-por-subsidio-de-transporte-coletivo-de-passageiros-tarifa-zero-cria-o-fundo-municipal-de-transporte-coletivo-fmtc-e-da-outras-providencias