Em mais um episódio que evidencia o abismo entre os representantes políticos e a realidade da população, a Câmara Municipal de João Monlevade aprovou na última quarta-feira (21) um auxílio-alimentação de R$675 mensais para os próprios vereadores. A decisão, tomada enquanto a cidade enfrenta graves problemas em áreas essenciais como saúde, educação e infraestrutura, revela a preocupante distorção de prioridades que domina o legislativo municipal.
O projeto, proposto pela Mesa Diretora, equipara os parlamentares aos servidores públicos no recebimento do benefício, mas esquece de equipará-los na sensibilidade social. Enquanto famílias lutam para colocar comida na mesa e pacientes enfrentam filas intermináveis nos postos de saúde, nossos representantes encontraram tempo e disposição para garantir mais R$8.100 anuais em seus próprios bolsos. A justificativa de que o valor segue o mesmo pago pelo Executivo municipal soa como um insulto à inteligência dos contribuintes, já que ignora completamente a diferença fundamental entre quem trabalha diretamente com serviços essenciais e quem deveria fiscalizar justamente esses serviços.
Chama atenção o fato de que três vereadores optaram por se abster na votação – Bruno Cabeção (Avante), Revetrie Teixeira (MDB) e Thiago Titó (MDB) -, demonstrando pelo menos algum resquício de pudor diante da medida. Já o presidente da Casa, Fernando Linhares (Podemos), preferiu se esconder atrás do regimento interno para não votar, numa clara demonstração de falta de coragem política para assumir publicamente essa decisão vergonhosa.
O argumento de que “outras Câmaras também fazem” não justifica nada. Pelo contrário, apenas mostra como a cultura do privilégio se espalha como praga entre nossas casas legislativas. Se todos pularem de uma ponte, nossos vereadores também pularão? A verdade é que essa aprovação revela um legislativo completamente alheio aos reais problemas da cidade, mais preocupado em garantir mordomias do que em fiscalizar o poder executivo ou propor melhorias para a população.
Enquanto isso, João Monlevade continua com suas escolas precisando de reformas, seus postos de saúde sem medicamentos e suas ruas esburacadas. Mas pelo menos nossos vereadores poderão fazer suas refeições com um cartão alimentação novinho em folha. Que alívio para os cidadãos que lutam diariamente contra o desemprego e o alto custo de vida.
O episódio serve como mais um lembrete de que, enquanto a população permanecer distante da fiscalização dos atos de seus representantes, eles continuarão legislando em causa própria. Resta saber se essa vergonhosa decisão será lembrada nas próximas eleições, ou se, como tantas outras, cairá no esquecimento até o próximo escândalo.