Uma Cascata Artificial de 55 Metros de Altura no Solar Monlevade

Fernando Fonseca Garcia

A primeira Fábrica de Ferro Monlevade (1828-1853) era toda movida à água. Tanto os grandes martelos de forja, quanto o laminador e os ventiladores dos fornos eram movidos por força hidráulica. Havia também uma série de rodas d’água que forneciam força motriz para outros equipamentos como engenho de pilões para triturar a pedra de ferro, moinho de farinha, ralador de mandioca, engenho de serrar madeira, torno, etc. Para o serviço mais pesado como dos martelos de forja, por exemplo, Monlevade empregava a água do Ribeirão Carneirinhos, cujo curso foi desviado para dentro de sua Fábrica de Ferro.

Mas, para o abastecimento do Solar Monlevade, o patrono do Município desviou o curso de outro ribeirão, muito mais limpo, apensar de menos caudaloso do que o primeiro. Trata-se do ribeirão que nasce nas imediações do Campo de Aviação, desce pela mata do Hospital Margarida e, atualmente, é canalizado para o subterrâneo, na altura do Colégio Parreira, no Bairro Vila Tanque. Naquela época, ainda na altura de onde hoje se encontra o Colégio Parreiras, Monlevade desviou o curso do mencionado ribeirão através de um rego, conduzindo-o pelo traçado do que hoje é a Rua Imbé e, na virada da encosta, reproduziu uma que d água de mais de 50 metros de altura na direção dos fundos do Solar homônimo. Depois de despencar pela cascata, esta água era captada e utilizada para todas as necessidades domésticas do Solar Monlevade, para irrigar o grande pomar em torno do mesmo – cujos fragmentos ainda existem – para refrescar o clima, para movimentar equipamentos industriais mais leves como os ventiladores dos fornos, etc, e segundo ele próprio registrou, “para deleite da vista”, já que a cascata artificial podia ser vista, facilmente, das varandas posteriores da casa. Sobre o tema do abastecimento de água do Solar Monlevade é ainda preciso destacar que, apesar de servido de considerável quantidade de água corrente, há registro de que o mesmo não emitia esgoto sanitário, o que demonstra a preocupação ambiental de Monlevade já naquele tempo. Sobre a cascata artificial de 55 metros reproduzida por Monlevade ele próprio registrou (anexo):

[…]

“Das montanhas vizinhas desce um córrego, o qual, por meio de um rego, forma a pequena distância e a vista da casa, uma cascata de 180 pés (55 metros) de altura, a qual parece obra da natureza. Esta aguada é muito importante dando, mesmo no terreiro, impulso a um engenho de pilões, moinho para fubá à moda européia, ralador de mandioca, ventilador, etc. Assim como por meio dela pude arranjar, no centro do terreiro da entrada principal e na direção da cascata, um repuxo de 28 palmos de altura. Esta água, repartida para todas as necessidades da casa, serve também para irrigações e, refrescando o ar, também deleita a vista”.

[…]

Por: Fernando Fonseca Garcia

Fonte: <https://www.facebook.com/groups/1079863545919435/user/100001862329430/> acesso em 19/04/2022