Por Elizeu Antônio de Assis | Especial para o Ofato.News
Mariana será palco, nos dias 5 e 6 de junho de 2025, da I Conferência Internacional Tarifa Zero e Saúde: Interseccionalidades Emergentes. O evento, que acontecerá no Centro de Convenções Alphonsus de Guimarães, reunirá especialistas, acadêmicos, gestores públicos e organizações sociais do Brasil e do exterior para discutir uma questão urgente nas cidades contemporâneas: o impacto da gratuidade do transporte coletivo sobre o acesso à saúde e a qualidade de vida urbana.
Com inscrições gratuitas, a conferência propõe analisar como a política de tarifa zero, já implementada em mais de 130 municípios brasileiros, pode — ou deve — favorecer a mobilidade urbana com foco nos direitos sociais, especialmente em contextos de exclusão territorial e fragilidade de acesso aos serviços públicos.
Um debate internacional, mas com ecos locais
A proposta do evento é nobre e urgente: pensar o transporte público não apenas como um meio de deslocamento, mas como uma ferramenta essencial para garantir o acesso à saúde, ao trabalho, à educação e ao lazer. A política de tarifa zero, em tese, amplia o direito à cidade e contribui para a redução das desigualdades sociais.
Entretanto, a realidade vivida pelos usuários do transporte público em Mariana levanta questões importantes sobre a eficácia da política quando implementada sem estrutura, planejamento e fiscalização adequados. Moradores relatam superlotação, falta de segurança, ônibus sucateados e horários irregulares — sobretudo em linhas estratégicas como a Mariana–Saramenha, que sequer é contemplada pela gratuidade e cobra tarifas elevadas.
Nas redes sociais, é comum encontrar críticas à empresa Transcotta, responsável pela operação local. Estudantes do IFMG e da UFOP, bem como trabalhadores que dependem do transporte coletivo diariamente, apontam problemas recorrentes que comprometem a efetividade da política e colocam em xeque sua legitimidade.
Qual tarifa zero queremos?
A conferência chega, portanto, em um momento de tensão e oportunidade. Se, por um lado, ela oferece uma plataforma para a troca de experiências nacionais e internacionais, por outro, também escancara os desafios enfrentados por cidades que optaram por essa política pública sem assegurar sua operacionalização eficiente.
Ao atrair especialistas em mobilidade urbana, saúde coletiva e planejamento intersetorial, Mariana pode aproveitar a ocasião para repensar seu próprio modelo. A cidade tem a chance de transformar a crítica em motor de mudança, escutando os usuários, reavaliando contratos, cobrando transparência das operadoras e — principalmente — colocando a população no centro das decisões.
Participação e controle social: elementos essenciais
Mais do que um evento acadêmico, a conferência pode — e deve — servir como espaço de escuta pública. Que tal abrir mesas para depoimentos de usuários? Promover audiências com estudantes, trabalhadores e lideranças comunitárias? Ou mesmo cobrar compromissos concretos dos gestores públicos?
A política de tarifa zero só faz sentido se for acompanhada de qualidade, segurança, acessibilidade e respeito à população. Do contrário, corre o risco de se transformar em mais um discurso vazio, encobrindo realidades precárias com slogans modernos.
Mariana no centro do debate
Apesar das contradições, a realização da conferência em Mariana é significativa. Coloca a cidade no mapa dos debates globais sobre mobilidade e saúde, mas também a obriga a enfrentar seus próprios desafios. É a oportunidade de transformar o centro histórico da mineração em um novo polo de reflexão sobre justiça urbana, direitos sociais e políticas públicas integradas.
Cabe agora à sociedade civil, às universidades e aos movimentos sociais assumirem o protagonismo, fazendo da crítica um caminho para a construção coletiva de soluções. Afinal, tarifa zero não é apenas uma política de transporte — é uma política de cidadania.
📌 A programação completa da conferência estará disponível em breve no site oficial da Prefeitura de Mariana. A inscrição é gratuita e aberta ao público.
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