Curso tem mais estudantes com menor renda e perfil étnico-racial mais diverso
Estudantes em atividade acadêmica na Faculdade de Medicina Carol Morena / Faculdade de Medicina da UFMG
A Faculdade de Medicina da UFMG tornou-se mais democrática e inclusiva na última década, de acordo com relatório sobre o perfil do estudante do curso de Medicina, elaborado pelo Setor de Estatística da Pró-reitoria de Graduação (Prograd).
A análise abrange o período de 2008 a 2017, em que foram adotadas diferentes políticas afirmativas, como a Lei de Cotas, em 2013, e a adesão ao Sistema de Seleção Unificada (Sisu), em 2014. Segundo o relatório, em dez anos, o percentual de estudantes de Medicina com renda familiar de até cinco salários mínimos passou de 15,31% para 34,68%.
Para a pró-reitora de Graduação, Benigna Maria de Oliveira, a mudança mostra que as políticas de ações afirmativas têm contribuído para tornar a Universidade mais inclusiva, o que também traz desafios. “A cada ano, a UFMG procura se preparar melhor para receber esses alunos, que precisam participar de políticas de assistências estudantis o mais cedo possível. Principalmente para que eles possam entrar e ficar”, ressalta Benigna.
Como explica a pró-reitora, incluir ultrapassa o aspecto financeiro: “Também temos que pensar no ponto de vista acadêmico, para que o estudante tenha acesso a outro idioma, por exemplo, e participe de atividades como pesquisa e extensão. Temos adotado projetos nesse sentido”, informa.
Mais
diversidade
O curso de Medicina também está mais diverso em relação ao perfil
étnico-racial. Em dez anos, o percentual de alunos que se autodeclaram pretos e
pardos passou de 24,38% para 41,56%. Pelo Sisu, desde 2014, as vagas para
egressos de escola pública se dividem entre autodeclarados pretos, pardos e
indígenas e pessoas com deficiência.
Para a psicóloga da Assessoria de Escuta Acadêmica da Faculdade de Medicina, Maria das Graças Santos, a diversidade pluraliza a comunidade acadêmica tanto culturalmente quanto em relação a expectativas e sonhos. Ela ressalta que as dificuldades que podem surgir devido à maior vulnerabilidade socioeconômica não são empecilhos para o bom desempenho desses alunos. “Como comprovam alguns estudos, seu desempenho equivale ou até supera o dos demais”, afirma Maria das Graças.
A professora Taciana de Figueiredo Soares, coordenadora do Colegiado da Faculdade de Medicina, destaca a importância da diversidade para formar profissionais mais completos: “Esse contato possibilita compreender um mundo que vai além das janelas, formando profissionais preparados para atuar em benefício da sociedade”, conclui.
Permanência
O relatório, de acordo com a pró-reitora de Graduação, possibilita conhecer o
perfil dos alunos para identificar situações de vulnerabilidade socioeconômica,
bem como projetos e ações que podem contribuir para sua permanência na
Universidade. Divulgado no ano passado, levantamento que abrange toda a
Universidade produzido pela Prograd, também com base em dados do Sisu, revelou
a diversificação do perfil do corpo discente na última década em
razão das políticas de ações afirmativas.
A professora Taciana de Figueiredo enfatiza a importância da intervenção precoce: “A ideia é fazer uma recepção ampliada para esses calouros, para tentar identificar suas necessidades e pensar em estratégias para dar maior suporte”, pondera.
Taciana destaca o trabalho que tem sido realizado com a Escuta Acadêmica da Faculdade. “Atuamos para uma atenção mais individualizada aos alunos e também para prevenir que sofram qualquer tipo de discriminação. Somos vigilantes no que se refere a essa situação”, acrescenta.
Recorte
Anualmente, o Setor de Estatística da Prograd elabora o relatório do perfil
agregado dos estudantes de graduação, com dados gerais de todos os cursos.
Especificamente para o curso de Medicina, elaborou, em 2017, estudo do perfil
dos alunos, para apresentação ao Ministério da Educação (MEC). Por isso, a
análise não abrangeu todos os cursos da Faculdade.
O relatório mostra também crescimento percentual de alunos que cursaram o ensino médio integralmente em escolas públicas. Em 2008, eles representavam 14,37% do corpo discente. Uma década depois, são 50% dos alunos, conforme prevê a Lei de Cotas nº 12.711/2012.
Além disso, o percentual de alunos oriundos de outros estados passou de 6,88% para 27,81%. O número de ingressantes provenientes de cidades da Região Metropolitana de Belo Horizonte também cresceu, de 0,94% para 3,12%.