Quando estudamos psicologia, mais precisamente no final da graduação temos que decidir que área da psicologia iremos atuar. Dentre as áreas, a psicanálise é uma delas e já no último ano da graduação começamos a atender pacientes da área escolhida com supervisão, e sendo este um pequeno ensaio, não é suficiente para se tornar um psicanalista.
Depois de concluída a graduação, existem alguns cursos reconhecidos que oferecem formação para que então nos tornemos aptos. Um curso para dar um bom respaldo tem que oferecer no mínimo três anos de formação intensa, oferecendo estudos dos principais teóricos que devem ser lidos na totalidade de suas obras. São eles: Freud, Bion, Melanie Klein, Winnicott, Lacan, assim como os psicanalistas contemporâneos. Durante e depois da formação são necessários grupos de estudos que não devem ser abandonados antes de uns 10 anos.
O grande tripé da formação são: análise pessoal (no mínimo de 5 anos com no mínimo 3 sessões semanais com um psicanalista), supervisão (no mínimo de 5 anos com um psicanalista) e teoria. Sem estes três pilares é muito difícil oferecer ao paciente um trabalho de qualidade, principalmente porque lidamos com questões profundas que nos chegam, e se não estamos preparados e qualificados profundamente, a possibilidade de não oferecer um trabalho à altura da psicanálise para o paciente é muito grande. Por isto é importante sabermos a formação de quem escolhemos para nos tratar.
Para quem decide ser um psicanalista é necessário saber que além do tripé que cito acima tem que estar consciente que estudar, ler, assistir filmes, ir ao teatro, exposições de arte, ou seja, estar em contato com as grandes manifestações da cultura são obrigatórios porque ajudam a pensar a singularidade do ser humano. Estudar história também ajuda a entender o passado para compreender o presente, assim como mitologia grega, história das religiões, política, Shakespeare, obras literárias, etc.
Entrar em contato com a própria dor não é uma experiência fácil, e se não levamos a sério a formação embasada neste tripé, arriscamos a vida de pessoas que nos confiam sua intimidade, suas dores, suas questões.
Muitos médicos depois de fazerem residência em psiquiatria, neurologia ou pediatria também iniciam formação em psicanálise tendo que cumprir o mesmo rigor de estudos: teoria, supervisão e análise pessoal.
A Psicanálise nasceu a partir do trabalho do médico neurologista austríaco Sigmund Freud no final do século 19 quando ele percebeu que alguns pacientes apresentavam sintomas físicos sem explicação ou causa orgânica passando a investigar sua origem, e como não eram causados por disfunções orgânicas, de onde poderiam surgir?
Em suas pesquisas ele notou que aspectos inconscientes da mente apareciam como respostas. A partir daí, passou a dedicar-se ao estudo do inconsciente e de suas manifestações patológicas e não patológicas, e se constituiu numa abordagem terapêutica que parte do pressuposto de que a mente é determinada em grande parte por aspectos inconscientes, e seu método baseia-se na transferência que é algo que se passa entre o psicanalista e o analisando, na associação livre e na interpretação dos sonhos.
O tempo de duração do tratamento dependerá do processo individual, mas para que seja realizado um trabalho profundo e de qualidade são necessários alguns anos, persistência e sobretudo disposição interna para lidar com o desconhecido, com aquilo que ainda não sabemos de nós mesmos, mas se não tratados, nos fazem repetir padrões, ter somatizações corpóreas, enfim, nos adoece.
Diante do paciente que sofre devemos ter respeito, silenciar e sobretudo não esgotar esforços para melhorar sua dinâmica interna, oferecendo a ele uma escuta qualificada.
A psicanálise é um tratamento que todos necessitam e que nos ensina que tudo aquilo que não resolvemos repetimos, por isto que para ela tudo interessa. Eu fui fisgada pela psicanálise!
Fonte: Zogheib, Claudia.
Psicóloga clínica, psicanalista, especialista pela USP, atende presencialmente e online. Redes sociais e sites: @claudiazogheib, @augurihumanamente, @cinemaeartenodivã, www.claudiazogheib.com.br e www.augurihumanamente.com.br | Foto: Edgar Maluf @edgar.maluf ©